RUMORES
 
   Em tempos de crise,   Tropeçamos na calçada,   A comida azeda,   O café cai no chão.   Em tempos de crise,   Sempre perdemos tempo.   Gaguejamos desculpas,   Rasgamos bilhetes de loteria.   Em tempos de crise,   Babamos de raiva,   Deixamos remela no olho,   Prendemos o dedo na porta,   Esquecemos todas as melodias.   Em tempos de crise,   A dor no peito nos invade,   Agonizamos nos corredores,   Nos esforçamos, choramos   E morremos na praia.   Sem chance!     Em tempos de crise,   Não se acredita nas previsões e o clima nunca é bom.   Azia, prisão de ventre, insônia, sinusite.   Sem brincadeiras, sem humor, sem sal, sem açúcar.   E um futuro tão distante,   Que não vale a pena esperar.
 
 (Célia Demézio)
   
 
