SERENATA



Mais um dia,
e ainda tenho desejos.
Houve lágrimas no fim do dia,
Indecisões e certezas juradas de pés juntos.
Flertes e mentiras.
Só resta este sorriso amarelo
E uma vontade de ir...
Como o mar anda agitado!
E pessoas desmaiam na multidão
Cansadas de suas gravatas
Mancando em seus saltos altos,
Tendo câimbras nos dedos
Tentando alcançar a última oferta do dia,
e acabar com as prestações vencidas.
Todos os dias se respira
E se acumula no peito
Boleros, sambas-canção, proibidões,
Jazz e fumaças de cigarros.
E ainda tenho desejos.
Embora nada alimente,
Nada acabe com a fome.
Por isso tantas manchetes,
Tantos atropelamentos, tantas desculpas.
O olho direito treme,
Stress em alto mar.
Diagnósticos, terapias modernas,
Novas tecnologias, imagens do interior.
AVC, ICC, DEPRESSÕES PÓS-PARTO.
Existem disfarces, mal feitos.
Ninguém acredita no fundo: Tudo Bem !
Para não se esquecer de nada,
Acredita-se no dia seguinte.
Então procura-se sobreviver,
Como se procurar amarrar os sapatos,
Para não tropeçar e bater a cabeça na calçada,
E servir de comida aos ratos.
E ainda tenho desejos.
A partir de agora me calo.
Voto nulo, só ouço Cartola...
Torço para que faça sol, amanhã.
Para que chova, amanhã.
Sem pressa de ter o que nunca terei.
Agora quietude, e os conselhos de amigos...
(Célia Demézio)

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