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Mostrando postagens de maio, 2007

A máscara

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Eu sei que há muito pranto na existência, Dores que ferem corações de pedra, E onde a vida borbulha e o sangue medra, Aí existe a mágoa em sua essência. No delírio, porém, da febre ardente Da ventura fugaz e transitória O peito rompe a capa tormentória Para sorrindo palpitar contente. Assim a turba inconsciente passa, Muitos que esgotam do prazer a taça Sentem no peito a dor indefinida. E entre a mágoa que masc’ra eterna apouca A humanidade ri-se e ri-se louca No carnaval intérmino da vida. (Augusto dos Anjos)
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"Eu não tenho enredo. Sou inopinadamente fragmentária. Sou aos poucos. Minha história é viver". (CLARICE LISPECTOR) Mais uma gentil colaboração de Lee...

A GAROTA QUE QUERIA SER BEAT

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Chove lá fora e aqui faz tanto frio...Peguei a garrafa e tomei um gole de conhaque pelo gargalo. Procurei me concentrar mas não conseguia ter nenhuma idéia original. Tomei mais um gole de conhaque. É, as coisas estavam começando a ficar complicadas. Liguei para o editor e ele estava em reunião. Liguei de novo e ele continuava em reunião. Na terceira ligação a secretária me disse que o editor havia mandado eu me fudê. Bem, em resumo era isso mesmo que eu tinha entendido, antes da secretaria desligar o telefone na minha cara, e eu pudesse lhe dizer, muito obrigada. Eu estava atrasada e o negócio editorial possuía suas normas rígidas. Quinze páginas em branco, e só faltava preenche-las com alguma estória impressionante, fascinante ou mesmo interessante. Pensava em uma história simples, porque afinal de contas, não iriam me pagar tanto. Mas, nem o simples se alcança tão facilmente. Comecei a picotar papeizinhos enquanto tentava raciocinar com o feixe do meu sutiã. O tempo passou e nada. De

QUAL É MESMO O SEU NOME?

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De toda a grana que eu havia ganhado nos últimos dois meses restava apenas uma nota de vinte e uma opção; Ir até o cinema assistir o último filme dos irmãos Ethan e John Cohen. “O HOMEM QUE NÃO ESTAVA LÁ” era o filme em questão. E para sobrar algum trocado, decidi que iria até o cinema onde o filme estava em cartaz a pé mesmo. E para o meu desespero o tal cinema ficava dentro de um shopping no centro de Santo André... Eu já manifestei inúmeras vezes a enorme ojeriza, o asco e o ódio que eu sinto por shoppings. Mas sempre que posso eu aproveito para descer o cacete nesses templos de adoração à estupidez humana. Neles, onde poesia não mofa porque lá, nunca ela conseguiu existir. Tudo de plástico. “Fake”. Engessado. Mas enfim; Eu não tinha opções. Então quando deu seis horas da tarde, eu enfiei minha calça preta, meu tênis All Star, vesti a minha camisa do The Clash, peguei a jaqueta jeans e iniciei minha caminhada rumo ao templo dos imbecis, atrás de um filme de qualidade que me desse al
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"Como será possível acreditar num Deus criador do Universo, se o mesmo Deus criou a espécie humana? Por outras palavras, a existência do homem, precisamente, é o que prova a inexistência de Deus." (José Saramago)

SE

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se por acaso a gente se cruzasse ia ser um caso sério você ia rir até amanhecer eu ia ir até acontecer de dia um improviso de noite uma farra a gente ia viver com garra eu ia tirar de ouvido todos os sentidos ia ser tão divertido tocar um solo em dueto ia ser um riso ia ser um gozo ia ser todo dia a mesma folia até deixar de ser poesia e virar tédio e nem o meu melhor vestido era remédio daí vá ficando por aí eu vou ficando por aqui evitando desviando sempre pensando se por acaso a gente se cruzasse... (Alice Ruiz)
olhar o mesmo olho com outros olhos em outro olhar o mesmo olho nos mesmos olhos o olhar do outro de olho (Alice Ruiz)

PERCEPÇÕES

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Ande um dia com a pele do outro conviva deixa a alma ser um pouco o outro e arda queime desespere mas apazigue o espontâneo fere mas só assim se existe (Claudia Ferrari) http://automoveisepoemas.blogspot.com/

O Poeta é a Mãe das Armas

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O Poeta é a mãe das armas & das Artes em geral — alô, poetas: poesia no país do carnaval; Alô, malucos: poesia não tem nada a ver com os versos dessa estação muito fria. O Poeta é a mãe das Artes & das armas em geral: quem não inventa as maneiras do corte no carnaval (alô, malucos), é traidor da poesia: não vale nada, lodal. A poesia é o pai da ar -timanha de sempre: quent ura no forno quente do lado de cá, no lar das coisas malditíssimas; alô poetas: poesia! poesia poesia poesia poesia! O poeta não se cuida ao ponto de não se cuidar: quem for cortar meu cabelo já sabe: não está cortando nada além da MINHA bandeira ////////// = sem aura nem baúra, sem nada mais pra contar. Isso: ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. a r: em primeiríssimo, o lugar. (poetemos pois - Torquato Neto) /8/11/71 & sempre.

VAMPKLAUSS II

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Nada pode reunir o mundo num só! Se olhos para os lados, os cantos se escondem entre o dia e a noite. Senão existe mais nada, Não é mais o inferno, não é o céu. Se divirta com a vida e aperte o acelerador. Está acabando esta velha história de HQ, dos meninos de colégio. O brilho dos objetos e a cara pálida de purpurina. A Festa do Anjo Exterminador. (Célia Demézio)

ÓTICA

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Lugares pequenos... Os meus sonhos são bem maiores que o mundo... Toda vida é mais curta que o tempo... Vou caminhar contra o vento... Chegar elegantemente atrasado...Beber mel e veneno em uma boca... Libertar-me... Prender meus olhos ao encanto de um amor profundo... Talvez haja alguma tristeza nos labirintos escuros desse pensamento... Eu vou sorrir... Vou fingir que a tal felicidade não é uma risada louca... Juventude é uma beleza eterna na lembrança... Brincarei até a tarde... Guardarei as memórias... Esconderei a dor nas almas dos brinquedos... Vou sangrar o sol... Gosto da chuva leve molhando os meus cabelos... Fecho os olhos, não gosto deste escuro... O céu, distraído se encarde... As nuvens são levadas pelo vento que passou leve entre meus dedos... Tenho uma formiga nas mãos... Há arrepios que nunca ouso contê-los... Vou soprar de volta esse vento que me desequilibra... Só um assovio... A distração é mesmo uma forma de magia... Vêem encantos em tudo... Nesse mundo tão distraído
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Acho-me relativamente feliz Porque nada de exterior me acontece... Mas, Em mim, na minha alma, Pressinto que vou ter um terremoto!!!!!!!!! (Mario Quintana) colabolaração de Lee

VAMPKLAUSS

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As mesmas folhas de sempre, Tiradas de um plástico. Escrevendo, escrevo, obedecendo as linhas, Os parágrafos e as moedas. No dia seguinte tudo é ressaca. Tirar do fim do túnel, tudo que começa. Uma bomba estoura enquanto fico comendo miolos de frigoríficos. À meia-noite sinto um peso de tanto alívio. A gente já sabe dos almoços aos domingos: frios. Um dia após o outro tem sabor de alho. (Célia Demézio)
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"Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso.A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão." (Caio Fernando Abreu) Gentil colaboração de Lee...

DOS POEMAS DESNECESSÁRIOS

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Mando meus desmantelos meu coração intranqüilo minhas faltas de data minha pouca memória e o melhor de mim mando o que me navega e os outros tráfegos mando o que foi escrito com pressa e outras urgências mando o louco, o torto, o cético, o romântico mando o explícito e desvairado mando a música, a mais bonita mando a orquestra, a banda e uma voz rouca e outra ainda silenciosa e digo que você me atravessa como uma lança e se aloja nos meus sentidos (Claudia F.) http://automoveisepoemas.blogspot.com/
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O que voce vai dizer dos meus olhos que te miram... da minha boca que te sussurra... da minha mãos que te acaricia... da minha cara impassível no meio de quase nada... o que voce vai dizer das minhas luvas vermelhas... vermelhas como minhas garras... das minhas coxas displicentemente apaixonadas pelas tuas... do meu sexo cheirando a flor, dos meus cabelos entrelaçados nas tuas mãos, ah, as tuas mãos! suspiro!...fundo... (Lee..... )

ASSIM VEJO A VIDA

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A vida tem duas faces: Positiva e negativa O passado foi duro mas deixou o seu legado Saber viver é a grande sabedoria Que eu possa dignificar Minha condição de mulher, Aceitar suas limitações E me fazer pedra de segurança dos valores que vão desmoronando. Nasci em tempos rudes Aceitei contradições lutas e pedras como lições de vida e delas me sirvo Aprendi a viver. (Cora Coralina )

MARGENS

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você me disse pra cantar um blues mas é que eu ando tão desafinado também não fico procurando um tom não se preocupe se eu estou errado. não caiba dentro dos meus olhos corra todos os perigos ou saia desse filme! o poeta é um bandido sem eira nem beira misto de louco e mendigo. o poeta não cabe no próprio poema o poeta é um subversivo. o poeta é um anjo de línguas a verve do próprio desejo. o poeta é a festa, o carnaval do poema. o poeta é o crime atravessando a palavra o poeta e seus ismos, atímicos delírios. o poeta engendrando amarras e gemas pra depois explodir com todas as margens. o poeta é a puta ocupando as esquinas o poeta é a fama, o lado sacana, o bobo da corte o poeta conspira um sonho pro mundo em seus calabouços. LETRA E MÚSICA: Claudia Ferrari http://automoveisepoemas.blogspot.com/
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"O amor nunca morre de morte natural. Morre porque nós não sabemos reabastecer sua fonte. Morre de cegueira e dos erros e das traições. Morre de doença e das feridas; morre de exaustão, das devastações, da falta de brilho" (Anais Nin)

ENTRE QUATRO PAREDES

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"A nossa pena é simplesmente esta: arder em desejo, sem a esperança de sacia-lo". (Dante Alighieri) "Eu tenho pressa, não minto, mas sinto que estou entre as quatro paredes da vida, e tenho sede meu amor, e guardo tudo, com muito cuidado, dentro de mim". (Sérgio Sampaio.) Como posso sair daqui sem me machucar, olhar a luz do sol e gritar liberdade? É um lugar pequeno, tão sufocante, tão escuro. Ergo meus dedos e apalpo a madeira. Por vezes me firo com alguns pregos arrebitados. Ai! Grito, mas ninguém me ouve. Acho que grito baixo demais, de certo. Meus dez dedos estão sangrando, e os coloco na boca, chupo aquele doce acre vermelho. Sinto muita dor nas costas, pois o teto é baixo demais. Fico assim, encolhida, meus joelhos chegando ao queixo. Aliás, se abro a boca meus dentes arranham meus joelhos, e sei que também eles estão sangrando. Não consigo me virar, nem para esquerda, nem para direita, e nem para trás. Mas escuto muitas vozes no lado de fora. A vida caminha

RE - SEIOS

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Em cima da mesa ponho. Debaixo da mesa guardo. Limpo o pó de todo brilho. Escolho o feijão que vou plantar olhando a noite germinar. Ligo o ventilador e saio voando. Passo férias de duas horas em Paquetá. Então me lembro que esqueci a chave. Volto mexendo os dedinhos como se fossem nadadeiras no ar. É hora de trabalhar! Um prato apoiado no livro. Sedas vazias. Palitos apagados. Um nó no fio da televisão. Reviro gavetas atrás de sutiãs. Procuro inspiração. (Célia Demézio )

O CORVO

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1 Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste, Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais, E já quase adormecia, ouvi o que parecia O som de algúem que batia levemente a meus umbrais. "Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais. É só isto, e nada mais." 2 Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro, E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais. Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais - Essa cujo nome sabem as hostes celestiais, Mas sem nome aqui jamais! 3 Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais! Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo, "É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais; Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais. É só isto, e nada mais". 4 E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante, "Senhor", eu disse, "ou senhora,